terça-feira, 25 de janeiro de 2011

E o vira lata, onde fica?


Vira lataBem, nem só de cachorros de raça vive o mundo canino. O nosso amigo vira lata está sempre por aí, nas paradas. Melhor, nas ruas. Sim, porque para virar latas é preciso circular.

Antigamente o vira lata era uma classe respeitada. Pessoas colocavam realmente latas diante de seus portões. Com lixo de altíssima qualidade. Ossos de frango ainda carnudos, restos de carne de primeira.

Até que alguém lá nas altas esferas resolveu que lata não dava mais liga. Era anti-higiênico (o que haveria de higiênico em lixo é que eu gostaria de saber…). E as latas foram trocadas por sacos. Com lixo de má qualidade, porque o nível sócio-econômico já não é lá estas coisas. Caso em que a lata não adiantaria nada também.

Até que uns e outros tentaram trocar também o “pedigree” do vira lata. Começaram a chamá-lo de “rasga saco”. Mas não funcionou. O vira lata resistiu firmemente, com bravura e conservou o nome.

O ser humano pensa que é inteligente. Mas não é. Mesmo diante de mostras cabais de que a troca de latas por sacos era incorreta, não voltou atrás. Os cachorros da espécie vira lata passaram a rasgar os sacos, não em busca de comida. Foi para demonstrar que a lata era muito melhor, mais conveniente para ambos os lados.

Analise bem. O cachorro virava a lata, pegava lá o que queria (o almoço) e ia embora. Pouco lixo caía para fora da lata, bastando o serviçal do vira lata (o homem) levantá-la e recolher o pouquinho que ficou para fora.

Com os sacos, a coisa degringolou. Lixo espalhado pra todo lado. E o saco, é claro, destruído, literalmente arregaçado. Um visível protesto do vira lata. Os cachorros poderiam desatar o nó do saco e fazer uma refeição mais decente. Mas resolveram detonar a bagaça, para dar uma lição ao homem.

Infelizmente não funcionou. Os sacos continuam enchendo o saco do vira lata.

Para que se compreenda a extensão dos danos aos vira latas, façamos um paralelo. Você faz suas refeições num parato, certo? Imagine que, de uma hora para outra, tenha que utilizar um saco plástico. Garfo já não seria de grande utilidade, a não ser para rasgar o saco, fazendo com que a comida “vazasse”. Usaria colher, então. O restinho lá do fundo, impossível de tirar. Você teria que fazer um boca-a-boca com o saco e sugar o resto.

O vira lata e a raiva

As pessoas quase sempre têm medo de vira lata. “Ah… pode ser que ele tenha raiva”. E tem mesmo. Você tira a lata de comida do coitado e quer que ele fique na boa? Fica com raiva mesmo. De você e do saco.

Fica pior ainda quando ele olha pela fresta do teu portão e vê lá uma finíssima cumbuca, cheia de ração da mais cara. Ainda por cima a cumbuca tem a inscrição: “Rex”. O vira lata olha, desolado, o estômago pregado lá no espinhaço… E o Rex, gordo que nem um porco, deitadão ao lado da cumbuca… Nem aí com a paçoca… Dá raiva.

E às vezes aquele fiduma do Rex, com a pança arrastando no chão, ainda vem dar uma de “dono do território”. Latindo para o pobre vira lata, do outro lado do portão. “Sai pra fora, gordão… – pensa o vira lata – te dou um cacête e ainda vou lá comer todinho aquele bonzo da hora…”. Só de raiva.

Final triste

Vida dura. E quando o pobrezinho tá lá, entretido rasgando um saco meio difícil (raridade, a maior parte é tão fino que dá pra ver o que tem dentro…)? Já está quase conseguindo, quando sente aquele negócio em volta do pescoço. Se lascou… é aquele filho duma égua da carrocinha. Já era.

Em poucos minutos o vira lata está lá, numa jaula, “esperando adoção”. Tá legal. Vai chegar lá uma senhora toda linda e cheirosa, recém desmontada de uma Mercedes zerada, olhar para o nosso herói, todo ferrado, com as costelas aparecendo por cima do restinho de pêlo, os zóião fundos que só a bexiga, o corpo (ou o que restou dele) cheio de berebas e carrapatos. Mais uma olhadinha e a burguesa diz: “é esse que eu quero… pode embrulhar”.

É ruim, hein? Adoção de vira lata zoado é partir desta pra melhor. Será que no céu usam latas?

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